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Apenas um humano comum entre outros, que pensa como o mundo pode ser paradoxal.

domingo, 18 de dezembro de 2016

O despertar




Sabe aqueles dias que você acorda, vai ao banheiro, abre a torneira da pia, a água com baixa pressão correndo entre seus dedos, aquele frescor de lavar o rosto que acabará de alongar com os primeiros raios de sol e os assovios dos pardais? Um dia comum, um dia de semana, mas era sábado, pois é, me retirei do conforto da água corrente que faz indagar o quão bom a natureza, mesmo encanada, é bela. O café já estava pronto, tomei minhas duas xicaras e levei a terceira para a escrivaninha onde trabalho, tinha um artigo para entregar sobre um autor inglês, o semestre de literatura estrangeira estava me matando, principalmente quando o autor tem sobrenome de Bacon, deixo claro para quem está lendo meu diário, é o Francis não o Kevin.

Já ouvia a badalas dos sinos da igreja do bairro, era o fim da tarde e nada como um dia de pesquisa, terminar a filosofia no bar. Olhei para a janela e vi as nuvens cinzas do preludio que uma à ventania e uma boa chuva chegaria, mas nada me impediria de finalizar o meu dia de “ensaios”.  Fui até um pub próximo, tomando aquela brisa nas bochechas como um apaixonado entrega um beijo a sua amada sabendo que a noite vai ser especial, pedi uma bela cerveja e um lanche do chef. Não liguei para o evento que teria, naquela noite, mas foi especial. Não me importo com estilo musical principalmente num pub, então dos textos da Inglaterra para a músicas atuais, que daqui 10 anos vão ter um grande valor. Bebi, flertei, me diverti e retornei.

Nada como deixar a chave cair entre os dedos, enquanto as gotas da chuva pingam da testa para as pálpebras, ao me levantar vejo que a luz do meu quarto está acessa, achei estranho, ele disse: estranho; você não vai escrever isso, entrei em casa, imaginei, que poderia ter deixado a luz acessa antes de sair, ‘poderia’ anote isso, entrei no meu quarto nada anormal, ‘anormal’, essa foi a melhor desse dia, ele não viu a mancha de sangue no próprio travesseiro!?.

Fui ao banheiro e abri a torneira da pia esperando aquele frescor da água corrente percorrer novamente em minhas mãos, ouvi um sussurro ao invés da água, ergui a cabeça e vi o espelho quebrado, um pequeno fragmento que se sustentava estava oxidado, fechei os olhos e abri novamente, e lá estava o espelho quebrado, olhei ao meu redor, senti o cheiro do abandono, o que estava acontecendo!? “Abandono? Sério que você escreveu isso? Você se acha tão inocente que não tem noção da sua volta”

Andei por toda a casa, nada havia nela, somente a porta do meu quarto estava fechada e ao chão com a poeira e detritos um pedaço de faixa amarela com a escrita “crime”. Abri a porta, nesse momento eu sabia que nada disso era real, era um sonho, um pesadelo, um devaneio da minha mente. O quarto estava intacto, da mesma forma que eu tinha visto minutos atrás, olhei para os corredores onde meus pés estavam e da mesma forma destruídos pelo clique do tempo.

Fui até a janela e ao abrir ela o céu estava cinza e a brisa trazia folhas de papel queimadas, um fragmento veio direto em minha direção e impresso estava: “ensaios – Bacon”. Me sentei ao pé da cama com aquele pedaço de papel amassado entre meus dedos, tentando compreender o que estava acontecendo. Não sei se foi minutos ou horas, ‘anos’, e gralhas estavam no muro, murmurando como pessoas naquelas fofocas que falam mal de alguém. Ao encostar minha cabeça na cama logo me levanto ao bater a mesma em o que seria um pé gelado.

Olhei com medo e a adrenalina subindo em minhas veias, era o corpo de uma garota, deveria ter seus 25 anos, linda, porém, ao notar o pescoço havia marcas de mão.... Ela foi sufocada em minha cama?! “Sim, ela foi”, olhei com espanto para a porta do quarto, e como num espelho me vi encostado com olhos frios me auto observando, e perguntei por que eu faria isso, nem ao menos conhecia ela. “Conheceu, a noite inteira, aliás ela era uma boa pessoa, você ao contrário, não posso dizer o mesmo”, nessa hora uma das gralhas voou para o quarto e roubou um dos belos olhos azuis da moça. Sai correndo do quarto, a casa destruída, abri o portão da frente e sai sem olhar para trás.

Me vejo na frente do bar, entro e peço uma cerveja e o lanche do chef, algumas horas passam, e olho na minha solitária mesa, outro eu, sentado observando a pista e o palco onde a banda começava a passar o som, lá estava ela, a moça. Começo a suar frio, porém estou estático só observando, meu outro ergue a mão, anota num pedaço de papel, algo que não consigo ler e guarda no bolso, o garçom vem e ele pede um bloody mary para ser entregue a moça. Escuto o barulho da chave caindo ao chão, e uma risada suave e gostosa de fundo.
O que está acontecendo?! “Você é inteligente, aliás seu texto teria sido um 10, e não consegue descobrir por si só? ” 'Inteligente, assassino, mentiroso’. Eu nunca mataria aquela menina! 'Inteligente, assassino, mentiroso’ Eu matei ela?! Falei alto enquanto entrava no quarto, acompanhando ela, vejo uma mancha de sangue no travesseiro e ao lado do criado mudo o abajur quebrado, ‘mas você sufocou ela, não? Não, sufocamento foi antes, ela adorou o coito, você por outro lado...’ Quem é você?! O que está fazendo, o que fez comigo?! Olho para traz e vejo a luz do escritório acessa e uma criança passa correndo... onde estou?! E nisso outra gralha passa na minha frente e escuto:

- Mãe, você deixou o computador ligado?

- Não, filho por que?

- Tem um texto aqui, e tem um cara na outra porta me olhando.

Passos rápidos se aproximando da sala, no monitor um arquivo de texto aberto: Ensaios por ... o monitor se apaga, as lâmpadas explodem, o céu era cinza, chuva, chave.

~~~Esse é apenas um conto que veio a minha cabeça e decidi escrever, espero que tenham gostado!


  

Pulmão Estrelar

Uma grande estrela vermelha
Uma grande estrela amarela
Uma estrela que não é estrela

Um dia que é escuridão
Uma noite e um clarão
O tempo inverte a razão

Não é apenas um suspiro
Não é aquele ritmo
No passo dos ponteiros
O destino é traiçoeiro

Ando por ai observando
Realidade que é solidão
É apenas uma função
Da razão e do coração

Abster-se de tudo
Ignorar a todos
Apertar um botão
e começar de novo

Cada vez que negativamos
nosso envolto é uma névoa
é um dia de escuridão
é uma estrela que não é

Olhar para a noite escura
ver as estrelas e a vermelha
Olhar para o dia claro
E ver a estrela amarela

Solidão é como um vento
Que sopra, nos afeta, refresca
Mas é passageiro

terça-feira, 12 de abril de 2016

Ode a Donzela da Água

“Nas névoas da alvorada,
A singela esposa aguarda,
O veraneio da espada
Com velas retocadas...

Esperava pelas manhãs
A esperança do marinheiro
Encontrar seu tesouro
Para seu cruzeiro

A maré escura
Os olhos ressacados
Avistam a longe
O esposo amado

A volta é traiçoeira
Doente ele ficara
Porém ele teria
Sua querida amada

No quarto mês do retorno
As gaivotas que cantavam
Sucumbiram num estrondo
A porta estava sendo batida
E um enorme choro

Uma criança, um bilhete
Um filho, uma traição
A esposa o tomou em mãos
E não a quis não!

Tremenda raiva que tinha
Sua sombra sobressaía
Seu esposo teria que partir
E o seu bebe... ela cuidaria?

Anos se passaram,
Seu marido não voltara,
As gaivotas cessaram
e bateram na sua porta

Uma mulher linda,
A flor mais bela
Carmesim era sua bochecha
E olhos de sereia....

Ela veio para a esposa
Desculpou-se pelo ocorrido
Queria ver seu filho
Um prometido sirenídeo
Pasma, desacreditada
Era a sensação da água
Acordando do pasmo
Seu sonho retratado...

Nada mais tinha,
Esposo e filho
A maré a convidara
Para um exílio

Seu salto foi cantado
Em plena lua completa
A canção de ninar
Era sua marcha

As águas frias
O último vislumbre
Uma lágrima de sereia
“seu marido está vivo”

Lamúrias nas noites
É a canção da agonia
A donzela da água
Assombra na procura
De seu amado.

E no fim seu amparo
É a música de um eterno bardo
Que carrega seu fardo

Em noites de agrado!”